domingo, 20 de abril de 2008

Desconstrução


Algumas pessoas ficam assutadas quando digo que não votaria no Gabeira de forma alguma. Outras demonstram até uma raiva incontrolada, quase espumando. Não tenho sequer tempo de mostrar porque não elegeria Gabeira nem para síndico do meu prédio. Mas, como o blog é meu e aqui não tenho que agüentar o papo chato com argumentos batidos sobre o "caráter" e a "integridade" deste "puta deputado", explicarei minhas razões.

Fernando Gabeira é herdeiro da geração que sofreu o pão em que o diabo sentou nos anos de ditadura militar. Como militante ultrapop, seqüestrou embaixador, usou sunguinha de crochê e fumou muita maconha. Super legal, super bacana e descolado, né? Mas, vamos lá, ninguém nunca me disse uma contribuição relevante que Gabeira tenha trazido até nossa sociedade. Um projeto relevante, uma lei de destaque, uma proposta inovadora. Simplesmente virou um mito, adotado pela mídia e acolhido pelos "intelectuais" cariocas da Zona Sul. Ah, porque não sei se vocês sabem, mas é chique, é cool votar no Gabeira. Votar no Gabeira mostra que você é vanguarda, liberal, prafrentex. Credo.

Hoje em dia, na agenda do deputado encontramos temas de suma importância, como, por exemplo, a regularização da profissão de prostituta. Claro, esse meu povão cheio de ginga está muito engajado em saber se é justo existir uma carga tributária por cada puta que é consumida. Pelamor, amiga dona de casa. Temos mais com o que nos preocupar, não é mesmo?

Outra questão muito defendida pelo deputado verde é a liberalização da maconha. O que já é uma piada pronta, porque todos nós sabemos que Fernando Gabeira é sinônimo de baseado. Há interesses pessoais diretamente ligados à proposta. Interesses enrolados em seda pura, claro. E, obviamente, o grande deputado esquece de colocar em debate a grande chave do problema: a culpa cortante que usuários como ele têm no caos em que a cidade do Rio se transformou por causa do tráfico de drogas. Mais uma vez, eu e você amiga que está na cadeira do seu PC, sabemos que se a Rede Globo e os jovenzinhos da Zona Sul parassem de cheirar nossos amigos traficantes iriam à loucura. Quiçá, à falência.

Em outra frente de combate, vamos lembrar passo a passo os últimos anos do deputado. Em 2002, se elegeu pelo PT, pegando carona na mega popularidade do presidente Lula. Porém, quando a coisa apertou e o governo passou por uma crise grave, vimos Gabeira lado a lado com ACM Neto & Cia, bradando contra os barbudinhos trabalhadores. E agora, em sua pré-candidatura à Prefeitura do Rio, ele tem o apoio do PSDB. Do PSDB! Partido que ele atacou veementemente nos anos FH, PSDB de Marcello Alencar, PSDB de Arthur Virgílio. Particularmente, não sou radical quando se tratam de alianças, e não tenho simpatia específica por partido algum. Mas, se Gabeira é um bastião da lógica e um dos últimos redutos da coerência política nacional, que se cobre o mínimo de pudor nos apoios que recebe em sua pré-candidatura.

Então, por mais que Gabeira seja honesto, descolado e liberal, falta algo que deve ser valorizado em qualquer pessoa, ainda mais uma que almeja o poder público: a consistência de argumentos em suas convicções. Sem essa consistência, tudo fica amorfo e vira uma piada, como, para mim, é Fernando Gabeira.

E, sinceramente, espero não ter que voltar a gastar tempo falando sobre o deputado. Até porque, como um espasmo de sabedoria do povo carioca, sabemos que ele não será eleito. Amém.

2 comentários:

Pedro Rabello disse...

Só espero, sinceramente, que o Crivella não seja prefeito.

Unknown disse...

Muito bom, Pedro. Começou bem demás.
Prometo que não pergunto mais por que você não vota no Gabeira.
hahaha