domingo, 27 de abril de 2008

Uma nova era


Brigas de casal sempre me fascinaram. Na verdade, casais sempre me fascinaram. Não pelo viés romântico da convenção, mas pelas tensões naturais que brotam dela. Os limites da monogamia sempre me encantaram. Até onde vão as juras de amor, os pedidos de sinceridade, as caixas de bombons? Não tem ponto final pra isso tudo, mas até lá a viagem é bem turbulenta. A parte estrutural das chamadas DR's, então, o que se fala, o que se responde...muito divertido analisar.


Mas o avançar dos anos e os filmes do Woody Allen me mostraram que há muito mais entre o céu, a Terra e os casais, do que simplesmente brigas. Há um certo espaço para a criatividade, para a liberdade de expressão, e para a expressão da liberdade (no caso, quando a discussão em pauta é a última do casal, a da libertação). Se eu fosse escritor, escreveria só sobre casais. Se eu fosse cineasta, filmaria somente histórias de casais. Como jornalista, não posso fazer somente pauta sobre casais. (Ok, mais uma manifestação do que vai acontecer no meu futuro. Tchau, jornalismo. Oi, cinema.)


Mas, o melhor de tudo é quando achamos que qualquer aspecto sobre uma briga de casal já foi apresentado ao mundo e, de repente, surge a vanguarda, a revolução, o novo. No caso, uma nova construção lingüística. Incrível! Chega de "o problema sou eu, não é você" ou dos diálogos desconcertantes do gênio nova-iorquino. Ontem, em um ponto de ônibus na Barra, um frescor revigorado se revelou no incrível mundo das brigas de casal:


-Não agüento mais, caralho!


-Que que eu te fiz? Me diz, ué!


-Tu tá pensando o que? Não sou otário, não, mulher.


-Mas a porra do negócio tá parcelado, Francisco. Caralho!


-Não to agüentando mais não! Não agüento mais tu explorando meu megabyte!



Pronto. A incredulidade tomou conta de mim. Até aquele ponto, tudo normal, palavras que outrora me fascinavam e hoje são banais. Mas ali, naquele segundo, um novo mundo se abriu. Neologismo em discussão de casal num ponto de ônibus. Muito emocionante. Mas não pára por aí. Voltemos:


-Não to agüentando mais não! Não agüento mais tu explorando meu megabyte!


(Pausa de um minuto, imagino)


-Francisco, comé que tu tem coragem de dizer que eu só penso no seu megabyte?!?


Aí já era demais. Um dialeto. Uma nova língua! Não só um neologismo de brigas de casal surgiu num ponto de ônibus na Barra, como ele já tinha sido difundido previamente. Ela respondeu! Ela respondeu!

E fiquei eu tentando formular um conceito para o termo. Quase pedi um autógrafo.


Posso continuar em busca de um nome que valha a pena na literatura nacional de hoje, ou na espera de novos ares no cinema hollywoodiano. Mas, quanto a brigas de casais, presenciei uma nova era se iniciando.

5 comentários:

deborah disse...

hahahaha
ri muito com o pseudo-junkie!
e achei vc meio pseudo-psicólogo! hahahaha! muitas análises!
e, realmente, o ponto de ônibus nos torna cada vez mais produtivos! viva!

Pedro Rabello disse...

Também acho fascinante analisar relações conjugais.

ps: dou a maior força para você trocar o jornalismo pelo cinema. eu, você e mai podemos formar uma nova santa trindade. que tal?

Cavalinho disse...

Muito boa!
caramba... muito boa!
Adoro briga de casal... e também gosto de escrever sobre relacionamentos... concordo com tudo que você disse. acho o fim do relacionamento de uma beleza incomparável. ^^



beijos, gaténho.

Vinícius Haesbaert disse...

haha um viva bem grande aos neologismos. \o/
bom, depois que Freud explicou a razão das metáforas animalescas e alimentícias no diminutivo no vocabulário conjugal, na transição do séc. XVII ao XIX, agora só reencarnação dele pra nos elucidar sobre esse novo fenômeno cibernético da vida a dois globalizada.

Vinícius Haesbaert disse...

*séc. XIX ao XX (duh)

HAHA