domingo, 18 de maio de 2008

06:55


Levantou-se como se aquela fosse a última oportunidade de dizer que a amava. Vestiu uma calça, uma camisa qualquer, o tênis que estava mais perto e foi. Tinha que correr. Faltavam minutos. Quinze. Na cama, ela não se mexeu. Pegou as chaves do carro. O cachorro correu atrás, mas ele fechou a porta ao sair, sem que o coitado pudesse fugir, como de costume. Desceu enlouquecidamente até a garagem. Entrou no carro. Chovia. O dia amanhecia. Mas ninguém notava.

Os sinais estavam todos livres, ruas vazias, curvas perfeitas. Faltavam minutos. Dez. Nunca imaginou aquilo. Depois te tantos anos, em uma noite sem sono descobriu que a amava. Tantas noites escondidos, como fugitivos da moral, e agora era preciso demonstrar o que tão obscuro foi por tanto tempo. Oito. Viagens que nunca aconteceram, mas eram juradas. Juras que sempre aconteceram, sem nunca serem cumpridas. Mas o amor era real, fluente. Só não-dito. Enrustido. Seis.

Estacionou. Porta do carro aberta, correu até o terminal de embarque. As lágrimas caíam com o vento ao correr desesperado. A voz dizia: última chamada para o vôo 1245, São Paulo/Nova York.. Quatro. Avistou os cabelos ruivos. Desaparecendo. Distanciando-se. Correu, chorando. Correu. Dois. Ela parecia ter esperado até aquele instante. E seus cabelos ruivos, que também esperavam, foram sumindo. Um. A porta se fechou. Não havia mais tempo. O amor ficaria para sempre ali, com ele. Guardado.

06:55

Ele sussurrou, vendo o avião sumir entre as nuvens do céu cinzento:

- Te amo.

3 comentários:

Pedro Rabello disse...

O pior é ela não saber que ele esteve lá.

Luiz Vieira disse...

creio que ela sabia.

deborah disse...

talentoso, você, hein?!
eu também acho que ela sabia.