segunda-feira, 5 de maio de 2008

Revisão de conceitos


Adorava aquela franja. Sempre que passava pelos corredores da faculdade, olhava pra ele. E pra franja dele. Aqueles cabelos lisos, sedosos e cheios de balanço. Nossa, mas também tinha aquele piercing...aquele piercing no canto da boca. Na adolescência ia à loucura com o vocalista do Blink 182. Talvez não tenha saciado seu fogo juvenil. E o fetiche do piercing no canto da boca continuava. Putz, e aquelas tatuagens? Nada de ideogramas ou o nome da mamãe no braço. A tatuagem dele era uma guitarra. Uma Fender clássica. Com chamas em torno dela. E não era em qualquer lugar. Era na batata da perna. E, nossa, que batatas...Ela quase tinha convulsões quando ele passava.


As blusas, então, um show à parte. Estampas exclusivas, das melhores marcas e mais caras. E as calças? Skinny sempre, de praxe. Era um rockstar. Ela surtava, minha gente. Aquela cabeça pendendo pro lado, aquela malemolência rocker no andar, aquele cigarro caindo entre os dedos. Faltava todas as aulas, porque tinha ensaios com a banda. Uma banda que ninguém sabia o que tocava, onde tocava e se tocava. Mas ele tinha uma banda, cara! Nossa, ela ia à loucura! Os amigos dele eram sacerdotes, que circundavam aquela entidade iluminada pela luz do carisma. E do pop, honney! Uma sensação absoluta na faculdade, ele nunca sequer olhou pra ela. Mas ela, no seu impulso teen retardado pelo tempo, não escondia a necessidade de possuir aqueles olhos delineados por um lápis preto emprestado pela mãe, aquele colete que foi da avó, aquela boca cheia de gloss, aquela androginia mickjaggeriana, uma coisa louca!


De repente, surge ele, vindo em sua direção, passos largos, o gingado, franja pro lado, cigarro caído. E lá vem ele. E ela pronta pra dizer sim, pro que quer que fosse. Podia ser uma ordem. "Coma cocô!" Ela diria sim! Chegou:


-Oi, menina!


-O..oi..olá!


-Posso te perguntar uma coisa?


Ela, em pânico e êxtase:


-Pode, claro que pode!!!


-Tô há séculos pra te perguntar: que shampoo você usa nesse cabelo, amore? Gente, tá uma coisa de louco! Sedosos até dizer chega! Jesus!


Ela levantou e foi embora. Ele ficou a ver navios. Então sua amiga resolveu perguntar a ela, após correr para alcançá-la:


-Que foi isso, garota? Deixou ele falando sozinho!


-Ah, só pode tá de sacanagem, né...


-Por que, ué?


-Mais mulher que a minha mãe, cacete!


-Porra, o cara usa gloss, lápis de olho, roupa de marca, anda rebolando e faz chapinha. Macho é que ele não podia ser, né?


-Ah, cara! Pensei que era estilo, charme, rockstyle! Não adianta. Só tem viado nessa porra.

2 comentários:

Pedro Rabello disse...

Algumas decepções são eternas. Por mais legal que ele seja.

Sônia disse...

Hoje em dia eles fazem tudo isso, e elas correm atrás...rs
Mas as aparências engamam! E como enganam...rs