domingo, 4 de maio de 2008

Catarina não são duas - parte 3


Catarina entrou no quarto. Luzes acesas. Chovia muito lá fora. Trovões. Ela entrou lentamente no quarto. Olhou para a cama. Estava com a colcha revirada. O armário escancarado. Suas roupas espalhadas. A cortina caída. O abajur derrubado, no chão, quebrado. As janelas escancaradas. Virou-se para a direita. A porta do banheiro que havia dentro do quarto estava encostada. Percebeu que não eram apenas vozes. Reconheceu uma das vozes. Ela implorava. Sumia. Voltava. Implorando. Agora ouvia. As vozes. Caminhou. Som de torneiras abertas. Ela abriu a porta.



Catarina entrou no apartamento. A sala estava totalmente revirada. O sofá de cabeça para baixo. As janelas fechadas. A cortina de persianas caída. A luz do abajur começou a falhar. O tapete estava dobrado. Os quadros na parede tortos. Os porta-retratos no chão. Virou-se para a esquerda. A porta do lavabo estava encostada. Catarina foi até o quarto. Tinha seus motivos. Foi até lá. Estavam dormindo. Os dois, abraçados. As bengalas também, dormiam abraçadas. Mas havia vozes. Vinham do lavabo. Foi até a cozinha. Pegou uma faca. Ela voltou. Não reconheceu as vozes. Elas conversavam. Continuava ouvindo. As vozes. Caminhou em direção à porta. Decidiu abri-la.



Catarina abriu a porta do banheiro. Estava sendo afogada. Sufocada na banheira. Ele se virou. Catarina deu um grito. Olhou para a banheira. Tarde. Estava morta. Jogou-se em cima dele. Escorregou. A cabeça de Catarina foi contra a borda da banheira. Caiu desmaiada, com a cabeça sangrando, encostada na banheira. Ao lado dela, tão pequena.



Catarina abriu a porta. Eram dois. Catarina esfaqueou. Eram dois. Fechou a porta. Foi até a cozinha. Lavou a faca. Colocou no lugar. Foi até a porta. Saiu, deixando encostada. Caminhou pelo corredor até seu apartamento. Ela não fugiu.


Catarina não são duas.

3 comentários:

Vinícius Haesbaert disse...

Valeu a espera! Arrepiei, lek.

Pedro Rabello disse...

Sabia que essa história não ia terminar bem. Fez bem em não fugir, afinal, ele jamais conseguiria fugir de si mesma.


ps: tem uma influência "estomacal" ou é impressão minha? rs

Luiz Vieira disse...

fugir de si mesmo é mais fácil que se encontrar. acho que catarina ainda se procura.