sábado, 17 de maio de 2008

O Chefe do trigésimo sétimo andar


Aquela era uma empresa exemplar. A hierarquia era herdada de anos, anos e mais anos de uma administração impecável, competente, e principalmente, eficiente. Cada andar do prédio determinava um setor. E quanto mais alta a localização de sua sala, maior sua relevância dentro do império. Eram 37 andares. E, no trigésimo sétimo, a luz. O Chefe. Ele era único e soberano no trigésimo sétimo andar.

Gomes era recém-contratado. Ainda estava no terceiro andar, setor de relacionamentos, reles relações-públicas. O que, dentro da empresa, era um cargo menor, inferior. Mas Gomes não pretendia ficar no terceiro andar por muito tempo. Sempre ouviu que a persistência era a chave do sucesso. Sempre desconfiou que fosse desculpa de gente burra, mas preferia acreditar no dogma para lutar pelo trigésimo sétimo andar. E com o andar da carruagem, Gomes passou a demorar mais tempo dentro do elevador. Décimo oitavo. Vigésimo quinto. Trigésimo. Trigésimo terceiro.

Mas, como vários outros funcionários, Gomes nunca entendeu o porquê de o Chefe nunca ter dado as caras. Em tantos e tantos anos de empresa, o Chefe nunca saiu do trigésimo sétimo andar. Por quê? Ninguém sabia. Todos questionavam, mas ninguém sabia apontar os motivos. Gomes tinha um plano.

Os ascensoristas recebiam ordens para nunca levarem ninguém até o trigésimo sétimo andar. Até porque, o Chefe chegava em seu helicóptero. Não precisava de elevador. Então, era preciso tomar o lugar dos ascensoristas. Como? Dopando os coitados.

Então assim se fez. Gomes dopou o ascensorista do turno da noite e, quase às onze horas, com o prédio praticamente às escuras, entrou no elevador. Portas fechadas, apertou o botão do misterioso trigésimo sétimo andar. Vigésimo. Vigésimo nono. Trigésimo segundo. O elevador parou. Trigésimo sexto...trigésimo sexto. Trigésimo sexto?!

Gomes olhou para o visor do elevador. Indicava o trigésimo sexto andar. A porta do elevador se abriu. Gomes, sem entender o que estava acontecendo, saiu pelo corredor completamente escuro. Não via nada. De repente, uma voz se aproximando aos poucos:

-Não acredite em trigésimo sétimo andar. Não acredite em Chefe algum. Só acredite em uma coisa: a curiosidade matou o gato. E agora vai te matar.

Gomes sentiu a faca em seu peito. O trigésimo sétimo andar precisava existir.

3 comentários:

Pedro Rabello disse...

A curiosidade matou o gato, o Gomes e qualquer outra pessoa que tentou achar o tal trigésimo sétimo andar.

Vinícius Haesbaert disse...

HAHAHA MORRI

Talita Duvanel disse...

Grande Uil. Talento.